Autores  •  Crônicas  •  Notícias  •  Resenhas  •  Outros  •  Contato

Acesse nosso Orkut!Acesse nosso Facebook!Siga-nos no Twitter!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Crônica - Junk Food, um vício indigesto

Por Rúben O. Nunes


Um hambúrguer para mim e uma salada para ela. Esse foi o pedido de Jorge ao garçom da lanchonete do Tonhão, em seu primeiro encontro com Paola. Desde então, em doze anos juntos, o cardápio se repetia. Jorge não dispensava um lanche gorduroso e Paola, sempre cuidadosa com sua saúde e seu corpo, nem pensava em ter o mesmo hábito alimentar do marido. Nunca o criticou, porque achava que o futebol do fim de semana sempre o ajudaria a manter o equilíbrio do peso. Mas quando ganhou o irônico apelido de “poste” dos amigos, Paola soube que Jorge já não era mais o mesmo zagueiro em campo e notava que a barriga dele aos poucos ficava mais saliente.


O casal tinha uma vida corrida. Ao tocar o despertador, Jorge se arrastava para o banheiro enquanto Paola acordava o filho Betinho para ir à escola e já ia para a cozinha preparar seu suco de laranja com torradas e o cereal do menino. Nem se dava ao trabalho de oferecer algo a Jorge, que já vinha com seu jargão diário: “Não tô com fome agora, vou compensar com um sanduba mais tarde”. Mas nesse dia em particular, Paola foi até Jorge entregando-lhe uma tigela com leite desnatado e granola e disse estar preocupada com a alimentação de Betinho, pois sua professora a alertou sobre as porcarias que ele comprava na cantina. Jorge, sempre buscando ser o mais objetivo possível, simplesmente mandou cortar o dinheiro do filho e orientou que levasse um lanche saudável feito em casa. Logo depois, questionou o que aquela tigela estranha fazia em suas mãos. Paola então aproveitou a deixa e passou sua mensagem: de que o pai dava mau exemplo para o filho e que isso deveria mudar a partir daquela manhã. Contrariado, Jorge deu três colheradas e despediu-se rapidamente da esposa.


Entrou pisando duro no escritório de advocacia em que trabalhava. Toledo percebeu o mau humor do colega e foi questionar o que havia ocorrido. Após ouvir o desabafo, aconselhou Jorge a ser vegetariano na frente da patroa e do menino, mas longe deles continuar com seu vício em “junk food”. Se a própria esposa de Toledo nem desconfiava que ele ainda fumava e deixava-se enganar pela goma de mascar de menta, o que poderia dar errado? Lembrou-o também que faziam isso o tempo todo como bons advogados, em defesa de seus clientes.


Assim foi durante três semanas. No fim de tarde, um gorduroso x-bacon no bar do Tonhão. De noite, poucas folhas verdes durante o jantar com a família. Betinho ouvia que, no tempo de seu pai, havia um desenho de um marinheiro que ganhava uma força incrível ao comer espinafre e logo colocou essa fórmula em prática. Paola se enchia de orgulho com os elogios das mães dos colegas, influenciados pelo filho.


Foi numa tarde que Tonhão surpreendeu Jorge ao dizer que Paola aparecera horas antes na lanchonete, acompanhada de uma amiga e timidamente pediu um x-burguer duplo com um milk-shake de morango. Um sorriso sarcástico estampou a cara de Jorge até o momento do jantar naquela noite. Enquanto a esposa discursava sobre os benefícios à saúde provenientes do licopeno encontrado no tomate, Jorge ironicamente entregou-lhe um pacote de batatas fritas dizendo que ela esquecera de pedir como acompanhamento do hambúrguer na lanchonete do Tonhão. Os olhos arregalados de Paola entregaram-na na hora. Derrotada, revelou que o motivo da gula repentina era o início de uma gravidez que anunciaria logo após o jantar. Jorge também arregalou os olhos e passou a devorar o pacote de batatas fritas, sem falar uma só palavra. Então Betinho o advertiu, empurrando a travessa de espinafre em sua direção e dizendo-lhe para ficar bem forte a fim de brincar bastante com seu novo irmãozinho que estava por vir.

0 comentários:

Postar um comentário